Partes

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sinto falta de mim mesma, do que fui, não sou e creio que nunca serei.
faltam partes, pedaços.
há lacunas por toda parte. minhas partes não estão juntas.
pequenos, ínfimos, quase invisíveis elos é que as seguras, sendo que nesse pequeno vazio havia tanto para preencher.
partes felizes, partes saudáveis, partes complementares, partes normais.
escolhas baseadas na ausência. será que eu não estava ali?
pular as partes, cair no abismo que existe entre elas. perder-me de mim.
surpreendo-me visitando tais cavernas escuras, mas nada vejo, nada ouço, nada sinto. portanto não falo.
quando dou as costas, escuto eco. seria dos meus passos ou há alguém tentado falar-me?
escuto mas não compreendo.
são murmúrios de um eu, um eu que desconheço, que nunca vi.
e nesse instante, entre meus seios abre um buraco, passam sensações. coloco a mão para verificar e não há nada palpável.
são rumores.
falta o ar
é o vácuo que o suga.
estou oca, são como partes invisíveis, não tomando espaço algum.
panos que velam minha alma , como uma criança a dormir. e todos em silêncio temendo acordá-la.
- dorme anjo, pois se despertas, a ti todos temerão.

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