Preferiria não ter escutado. Preferiria não ter lido. Um mergulho profundo numa alma negra, como a escuridão que fica por trás dos meus olhos. Vejo mas não enxergo, não reconheço, não sei. O que havia ali de tão assustador? Um vento forte, quase um tufão arrastou tudo por diante dos meus olhos e eu ali, parada e imóvel, com meus pensamentos absortos em idéias inúteis: Este tapete é marrom, laranja e vermelho, seus quadrados que o formam são dispostos com que lógica? Fico imersa, buscando algo que não sei se existe. Lógica.
procuro estabelecer conexões: um vermelho, um laranja, um marrom, assim por diante. Não? o laranja se repete quantas vezes? procuro a lógica do tapete enquanto a lógica do meu ser é estraçalhada, esmiuçada, invadida, violentada.
Me transformo em peças quadradas de cores distintas. Naquele meio tempo, tento juntar as peças com as armas que conheço. mas nesse caso elas não servem. A lógica não está ali.
me nego à isso. me nego a ser amorfa. preciso delimitar onde é meu começo e meu fim, as estruturas que me compõem. Cabeça tronco e membros. Não sou só isso, tenho mais, muito mais e essas partes/peças/pedaços se espalham e se juntam, numa nova (des)organização.
O laranja vem depois do vermelho? E o que vem depois?
Como um cubo mágico. cores e pedaços não se encaixam enquanto sinto meu "cabeça/tronco/membros" afundarem no couro macio. Me toco para ver se estou inteira ainda ou se se já me espalhei pela sala.
Espaço/tempo fora da noção do real. preciso me manter em mim.
Se saio do terreno que conheço e entro no eu desconhecido, preciso me manter ali. Busco a lógica do tapete de três cores e me afundo um pouco mais no couro macio. Me movo para me certificar que não, não está faltando nenhum pedaço, apesar de parecer que sim. algo está faltando ou se perdeu...
Meus olhos passeiam pelo ambiente (sim, eles estão ali e se movem) e encontro pedaços, fatias que compõem uma parte. Ou então, três moças alegres. ou um Dom Quixote delirante. Ou duas ovelhas emaranhadas entre si.
não sou o tapete laranja/vermelho/marrom que não tem lógica.
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